TIMO KOTIPELTO: "ÀS VEZES É MUITO DIFÍCIL SER ORIGINAL"


O lançamento de "Nemesis", o retorno à America do Sul, e até mesmo o desejo de continuar com sua carreira solo: Timo Kotipelto conta as novidades para o pessoal do Latin Metal em uma entrevista exclusiva.

Latin Metal: Stratovarius tem dezessete álbuns lançados até agora, tendo passado por mudanças significativas em sua formação. Você acha que, enquanto você e Jens Johansson acrescentam um componente clássico, os novos membros conseguiram imprimir visão mais moderna nos últimos tempos para diversificar a sua produção?

Timo Kotipelto: Bem, acho que não se trata apenas sobre Jens e eu. Claro que temos trabalhado tanto tempo juntos que, como você diz, somos a essência do grupo. Mas com a nova formação temos compartilhado tantos shows nos últimos três anos, e também tendo passado pela experiência de criar o nosso último álbum com Matias e Lauri, que fazem parte da nossa família. E não pense que eles são o motor da mudança, eu acho que o Stratovarius em si que tem a capacidade de se renovar e mudar sua direção musical. Neste álbum, tentamos fazer algo novo, em vez de tentar copiar o nosso estilo, de somar novos elementos. Por exemplo, tentamos fazer com que a melodia fosse primordial ao invés de velocidade, e isso é o que dá esse caráter moderno e ordenado, ou pelo menos é o que eu sinto quando ouço as músicas.

LM: No Nemesis a produção ficou exclusivamente com o Matias Kupiainen, ao passo que anteriormente tinha ele compartilhado esse trabalho com outros técnicos. Você notou que a diferença também pode estar ligada a esta mudança no modo de trabalho, fazendo um álbum mais consistente internamente?

TK: Claro! Eu acho que foi natural. Matias foi responsável por metade da produção do trabalho anterior, mas por sua vez havia participado da gravação de três álbuns, e fez alguns arranjos para adicionar à seção de teclados. Então, de certa forma, poderia capturar o que nós estávamos procurando. E decidimos confiar nele e em suas habilidades. Estou muito satisfeito com o resultado final do seu trabalho, eu realmente gosto do som que Matias alcançou. Talvez este álbum é mais obscuro e mais pesado, mas é como eu acho que todo álbum do Stratovarius deve soar neste novo milênio. Estou muito feliz, e realmente ansiosos para a hora de compor um novo trabalho, porque eu sei que podemos contar com ele para a tarefa.

LM: Vocês já levantam a hipótese que uma mudança nesse sentido poderia ser chocante para aqueles que esperam um retorno de álbuns como Visions ou Episode, que são considerados os mais clássicos e os mais completo da carreira da banda?

TK: Sim, desde o início, sabíamos que nossos fãs antigos ficariam surpreso. Mas, novamente, sabemos que é muito fácil de voltar para o passado para copiar, e é claro que poderia ter copiado algumas das nossas músicas de um desses dois álbuns, mas tentamos ficar longe de tudo, para que a composição nascessse naturalmente. Nós fizemos a música que vai conosco neste momento que a banda está passando, e nós sabemos que os nossos verdadeiros fãs vão gostar. Há mais músicas em que os teclados têm preponderância, e seria estúpido não utilizar esse recurso tendo um tecladista como Jens. Claro que você pode fazer como o Iron Maiden ou AC / DC, que é sempre o mesmo, mas nunca é ruim tentar algo novo.

LM: A balada "Old Man And The Sea", que aparece como uma faixa bônus em uma das edições especiais de Nemesis refere-se ao romance de Ernest Hemingway? Se sim, por que se inspiraram em uma história concebida pelo famoso escritor durante sua estadia em Cuba?

TK: Eu não sei, porque foi o Lauri quem escreveu, então eu não tenho idéia (risos). Mas o que posso inferir a partir da letra é sim, a história de um homem que, apesar de sua idade encontra a juventude perdida com a brisa do mar, lembrando que seu pai lhe havia dito quando criança, retornando mentalmente à sua pátria. E eu acho que é o que Hemingway queria transmitir através de seu romance. Também foi Lauri que escreveu a letra de outra música, chamada "Fantasy". Mas eu compus a maioria, entre os quais estão "Stand My Ground" e "Out of the Fog", ligado à experiências pessoais e minha visão sobre determinados eventos. Isso é sobre o que eu escrevo, acima de tudo. "Out of the Fog" é sobre os jovens forçados a ir para a guerra, mas outras músicas são relacionadas mais ao âmbito privado.

LM: Em relação a este aspecto, quando você considera o conteúdo de músicas como "Paradise", pode-se concluir também que o Stratovarius sempre foi uma banda que se preocupa com as questões ambientais. Você acredita que através da música pode se conscientizar o público?

TK: Eu acho que pode ajudar muito. Porque alguém ouve o que você está cantando e pode refletir, mudar sua postura. É claro que apenas isso não é suficiente para alterar a situação. A partir do momento que escrevi este tema, você poderia fazer uma linha do tempo e mostrar que as potências mundiais, como a China e os Estados Unidos não se preocuparam nem um pouco com este problema. Na minha opinião, essa é uma posição estúpida. Todos os governos deveriam estar envolvidos, também porque essas mesmas potências temregiões que estão contaminadas. Eu não sou um político, e eu não quero fazer política, mas é claro que eu quero escrever coisas que afetam a todos nós para podermos pensar juntos como alterá-las.

LM: Já que você mencionou os Estados Unidos, um país que, historicamente, não tem sido muito receptivo ao Power Metal Europeu, por que vocês decidiram fazer a festa de lançamento do Nemesis lá?

TK: Felizmente, o público americano não ouve apenas Thrash e Death Metal, apesar de ser o mais se escuta lá, junto com a música Rap (risos). Mas nossa gravadora conseguiu um lugar em Nova York para fazer a festa de lançamento do disco, algo que nunca tinhamos feito com Stratovarius, então assim que sugeriram, eu pensei que era ótimo. Foi uma festa em um lugar pequeno, onde nós simplesmente ouvimos o álbum com os nossos fãs americanos. Nós não tocamos, só reproduziram as músicas. Jens e eu fomos sozinhos, conversamos com as pessoas, tiramos fotos e autógrafos.

LM: Jörg Michael recentemente deixou a banda efoi substituído por Rolf Pilve na bateria. O seu problema de saúde foi um fator determinante quando tomar essa decisão?

TK: Na verdade, os problemas com ele começaram há cinco anos, porque ele não queria mais tocar, embora ele pudesse. Ele decidiu não tocar mais, e talvez seja melhor para nós também. De qualquer forma, ele continua trabalhando conosco, pois faz parte da nossa agência de booking, e ainda é nosso amigo, mesmo que não tocando juntos. Jörg tem algumas bandas jovens que maneja e que fazem festivais na Alemanha, e talvez por essa razão, também lhe facilitou as coisas para parar de tocar. Agora você tem mais tempo para se dedicar ao si próprio. Mas foi algo relacionado ao seu problema de saúde. Quero dizer, ele tinha câncer, mas que superou por tratamento durante anos, e agora está bem.

LM: Juntos, você e ele deixaram o Stratovarius em um momento de crise, em 2003, e posteriormente foi Timo Tolkki que deixaria a banda... Você acha que esta era uma oportunidade que tiveram de começar a trabalhar a partir do zero de novo, em um ambiente não tão estressante?

TK: Sim, naquela época nós fizemos isso ser muito mais fácil na banda, porque podemos concentrar no que nos ocupava, que era fazer música e shows ao vivo. Esse é o ponto. Houve problemas com o selo no início, que foram resolvidas em um primeiro momento, então Tolkki saiu e decidimos ir em frente, para não decepcionar nossos fãs. Nunca voltamos a entrar em contato com ele, embora ele tenha tentado entrar em contato comigo novamente. De qualquer forma, convidou-me para cantar ao vivo, nunca para compor, por isso é algo que não me interessa.

LM: Qual é o status atual de seu projeto solo, bem como o do Cain’s Offering, a banda paralela que você fundou com Jani do Sonata Arctica, e quais são os planos que você tem para o futuro de ambas as bandas?

TK: Com o Cain’s Offering nunca tivemos a oportunidade de nos apresentarmos ao vivo, e não vamos mais fazer neste momento. No entanto, eu acho que é um dos melhores álbuns que eu participei porque Jani é um compositor realmente muito talentoso e um excelente tecladista. Essa é a razão pela qual nós estávamos trabalhando em formato duo, e vamos lançar um álbum duplo acústico no futuro. Com Jani me sinto confortável para compor músicas que talvez eu não possa por no Stratovarius, embora a banda esteja escrevendo material novo também. Talvez possamos nos apresentar na Argentina, uma vez que sabemos que o apoio que temos na América do Sul, mas deve ser quando eu não estiver tão ocupado com o Stratovarius. Eu não tive tempo para compor algo para o meu próximo álbum solo. A razão pela qual eu comecei a minha carreira solo foi porque eu não tinha oportunidade de compor para o Stratovarius, já que Timo queria compor tudo, mas agora a situação é diferente.

LM: Como vocalista, eu imagino que você presta atenção às novas e emergentes vozes na cena. Por que você acha que há uma necessidade por parte da geração mais jovem a explorar formas vocais guturais, ao invés de uma técnica limpa?

TK: Eu acho o gutural muito interessante, e algo que eu possa fazer, porque eu também aprendi recentemente, embora não é o meu estilo. De qualquer forma, não importa se você faz  vocais guturais, o fundamental é encontrar seu próprio estilo. Você tem que ser reconhecido, você tem que fazer a diferença e não apenas copiar o que todo mundo faz. Às vezes é muito difícil ser original, mas é importante encontrar suas próprias capacidades. Não é impossível.

LM: Você visitou a Argentina em várias ocasiões, e conheceu nosso público, e eu imagino que mesmo você vai ter a oportunidade de dar algumas voltas em Buenos Aires. O que você espera desta nova turnê que vai começar em maio, que será a primeira com Rolf Pilve como baterista?

TK: Bem, em primeiro lugar, Buenos Aires é uma das cidades mais bonitas do mundo, por seu espaço, por sua arquitetura e pelas pessoas que ali vivem, que são muito simpáticas. A última vez teve um vídeo de um amigo gravado lá, para a canção "Under Flaming Skies", que mostra que a Argentina é muito importante para o Stratovarius. O que não sabemos é que expectativas têm Rolf, ele vem fazendo tour conosco, mas ainda não na América do Sul; na verdade, eu acho que ele nunca foi até lá por conta própria (risos). Mas eu acho que vai ser muito bom para ele ouvir as pessoas cantam tão forte em Buenos Aires. Ainda me lembro quando eu comemorei meu aniversário de trinta anos ali, diante de duas mil pessoas cantando comigo ... E foi incrível.

Nossos agradecimentos à Gabriela Sisti, assessora de imprensa da Stargate Productions, por possibilitar a realização desta entrevista.

Tradução: Marina Cruzeiro

Fonte: Latin Metal