STRATOVARIUS - ELEMENTS PT.1

Depois de uma pausa para projetos paralelos, relações familiares, tombos de bicicleta e, acima de tudo, para espairecer, até mesmo porque eles deviam supor que os fãs só tinham a eles para suplantar (seja pelos consecutivos lançamentos ou shows periódicos), eis que o Stratovarius retorna com Elements Part 1, o nono da carreira do grupo, previsto para estar nas lojas do primeiro mundo em 27 de janeiro próximo. Nesse ínterim, não perderam o costume de coelhos procriadores e evitando deixar a alta popularidade escapulir, editaram um DVD chamado Infinite Visions e um apanhado de raridades denominado Intermission, que deveria ser vendido a um preço camarada, mas, como é de conhecimento geral, não foi bem o que aconteceu (sabe-se lá se eu teria o meu, caso não o tivesse pego em promoção).

Assim, após férias merecidas, de cabeça fresca para trazer novas idéias e influências, o retorno aos ensaios e pré-produção deste foi envolto em garra e bom humor, algo que deixavam transparecer em mensagens postadas no website oficial da banda. Restava saber se ela sofreria uma recauchutagem apropriada, uma funilaria decente e uma pintura complementar ou continuaria aquela mesma coisa de sempre. A resposta veio de forma bem simples: mudanças mínimas permeiam a obra e aquele sentimento de ‘déjà-vu’ não é um caso raro, a começar por “Eagleheart”, seguindo a mesma linha (bastante) comercial de “Hunting High and Low”, a qual, na época, gostei muito, mas cuja fórmula reciclada já não mostrou a mesma força, e, em se tratando da escolha para o single, percebo a sua principal serventia como a de atrair a atenção e arrebanhar novas ovelhas, ou seja, pessoas aparte do mundo heavy.

Como de praxe, músicas “que ultrapassam a barreira do som” não faltam, e aqui elas se apresentam em “Find Your Own Voice”, na qual Timo Kotipelto canta incrivelmente alto, e “Learning to Fly”, que mostra uma curiosa interação entre guitarra e bateria, deixando alguns trechos bastante poderosos, pois é ali que Jörg Michael resolva judiar das peles. Mesmo não agüentando mais nada neste estilo, estas são OK, e prosseguindo ainda nele, depois de dois álbuns uma instrumental volta a ser registrada, que pelo título, “Stratofortress”, certa vez chegou a me impressionar. Tempos mais tarde, comentou-se que esta fora a mais difícil de reproduzir em estúdio, tendo levado seis horas para gravar somente o contrabaixo, e um dia inteiro para Timo Tolkki deixar a sua marca. Ele próprio afirmou que ao zunir dela, os ouvintes iriam sorrir e seus dedos, sangrar, o que então gerou uma boa expectativa. Contudo, este se revelou mais um tema repleto da típica veia clássica, com um lampejo bem interessante no começo, e, em seu decorrer, o costumeiro dueto entre Tolkki e Jens Johansson. Nestes breves 3’21” podemos identificar alguns resquícios da monumental “Visions”, mas eu realmente esperava por mais, apesar dos desanimadores boatos de que esta seria a investida mais veloz de toda a sua trajetória, o que não é a pura verdade...

Seguindo os passos do trabalho anterior, foram concebidos dois épicos, “Fantasia” e, obviamente, a faixa-título. O primeiro deles, que traz como inspiração o filme “História sem fim” (sim, aquele do “cachorrão” branco), surge apoteótico, vai diminuindo a aceleração até o refrão (cujo início beira o limite do satisfatório), amansa de vez com a entrada de instrumentos de sopro e um belo acordeon, e ao chegar no núcleo dá uma engrenada bem bacana, sendo esta segunda parte um dos melhores momentos do disco. A outra, uma comparação do fogo, água, terra e ar com os sentimentos humanos, é uma continuação perfeita da ‘title-track’ Infinite, uma ‘mid-tempo’ que apresenta quebras de ritmo e corais a granel.

Não estranhem a minha inclinação em contradizer o que andam divulgando por aí, pois a menos que separássemos o baticum marcante, esse definitivamente não é o CD mais pesado da sua discografia, principalmente em relação ao último deles, com o qual ao menos se assemelha (e muito) estruturalmente, tendo como prova disso o encerramento sossegado com “A Drop in the Ocean”, irmã de “Celestial Dream” e prima distante de “Lullaby for Lucifer” do Angra por conta das gaivotas e ondas marítimas, daquelas encontradas nas “sessões de relaxamento” das canções new age. Também para o lado mais melancólico, “Papillon” possui uma melodia semelhante à de “Before the Winter”, porém com uma explosão dramática, nesta que também ganhou uma versão em francês (língua que deu origem à palavra) utilizada como ‘bonus-track’ no mercado daquele país. Imaginem o Kotipelto, todo suspeito, cantando “eu sou uma borboleta...”. Ah, faça-me o favor...!
E o que existe de diferente? Nada?!? Os solos sempre se assemelham, as letras continuam girando em torno de preocupações cósmicas e religiosas (aqui levadas muito a sério), e então o que sobra? Apresento-lhes, portanto, “Soul of a Vagabond”! O leitor certamente já escutou o projeto sinfônico do Metallica, S&M. Pegue um punhado do que está lá e você conseguirá visualizar como ela é... (só que de um jeito bem feito, e pouco original, infelizmente) Ou seja, nada mais é do que o Lars Ulrich tocando com um vocalista semidelicado, rodeado de um clima pra lá de tenso. Aliás, é bem isso que Elements Pt.1 representa no geral: uma empreitada bem orquestral, atmosférica, com cinco ‘backing vocals’ transformados em cem, etc... Qual o meu veredicto? Meio que a contragosto a nota é 9, caso contrário eu estaria renegando o seu passado mais recente (de qualquer modo, dentro em breve haverá no Whiplash! uma outra resenha imparcial). Novatos adorarão. Seguidores de longa data... pode ser só mais um na coleção. Mesmo mantendo a excelente qualidade, o engraçado é que antes eles gastavam bem menos e faziam “bem mais”... Quem os acompanha há tempos e foi no primeiro show de SP sabe do que eu estou falando...

Obs: O single, que também conta com a composição de Johansson “Run Away”, atingiu o 2º lugar na parada finlandesa e pode chegar a ouro (num falei?!?). Ainda bem que ela só fez parte desse compacto e da edição especial, porque êita coisa repetitiva...

Fonte: Whiplash
 
 

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